Sair do Buraco
Estive metida num buraco. Dobrada, enrolada sobre mim mesma, sem ouvir, ver ou sentir nada que não fosse a minha dor.
O mundo lá fora continuava indiferente, frenético, inconsciente, louco. A minha existência estava à parte, longe, sem esperança, sem futuro…
Partir um dia, sentir a dor de ver partir os que amamos é o destino que temos. A comunicação, a presença que sempre existiu acabou! Não existe mais.
Não adianta gritar, chamar, pedir. Não somos ouvidos e se somos não nos podem responder. A dureza desta barreira imensa é avassaladora. Simplesmente já não é possível, já não existe, acabou! Nada podemos fazer.
É preciso fazer o luto. Fazer o luto… Quanto tempo dura o luto? Quando acaba a saudade? E este nó na garganta e a dor no peito?
Vai passar, vai passar, temos de aceitar. - Alguém diz.
E o tempo flui numa linha contínua, carrasco das nossas vidas, remédio das nossas dores.
O tempo passa e o mal vai sarando, os ouvidos começam a perceber sons vindos de outro alguém, os olhos recebem luz e calor dum Sol redentor, as mãos sentem o carinho de outras mãos.
Como uma semente que sai do seu leito de terra e espreita o Sol da Primavera, a luz da esperança começa a renascer. Começo a sair do buraco.